STEFAN SAGMEISTER E O SEU DESIGN ARTE

O designer austríaco explora a relação tênue entre a arte e o design, utilizando muitas vezes o próprio corpo.

Publicado em: 24/06/2014
O trabalho do designer austríaco Stefan Sagmeister vem sendo exposto mundialmente, sempre sob a tênue linha que o coloca entre a arte e o design: ora arte, ora design. Designer gráfico formado na Universidade de Artes Aplicadas de Viena e pela Pratt Institute em Nova York, em 1993 criou o Sagmeister Inc., com foco no trabalho comercial para a indústria da música e  com clientes como Rolling Stones, David Byrne, Lou Reed e Aerosmith, o que lhe rendeu indicações ao Grammy e a premiação em quase todos os mais importantes prêmios internacionais de design.



Sua linguagem parece possuir forte relação com as temáticas artísticas e históricas de seu país. Assim como seus conterrâneos, os artistas Arnulf Rainer e Herman Nisch, Sagmeister mescla algo de místico a uma evidente experimentação vinculada ao corpo. Corpo este que muitas das vezes é o do próprio criador, como em “Aiga lecture in Cranbrook”, pôster criado em 1999, para divulgar uma palestra, nele Sagmeister fez-se de suporte.



Em uma de suas mais recentes criações, um projeto feito para uma empresa de bicicletas dos Estados Unidos, Sagmeister concebeu o cartaz “Public”, nele o designer utiliza de 4.209 elos de correntes de bicicletas para formar um texto no qual reivindica mais espaços urbanos para ciclistas e pedestres. De campanha direcionada a um objetivo específico, “Public” atualmente é vendido pela internet como objeto de desejo ou contemplação, e o que antes parecia fundamentalmente uma mensagem de reflexão, possui agora um novo objetivo. O que era transmitido primeiramente ainda está lá, entretanto, a mensagem inicial criada por Sagmeister adquiriu um novo significado ao entrar em contato com um público que passou a buscar aquele produto com outros intuitos.



O design de Sagmeister é um exemplo da relação tênue entre o design e a arte, tema que vem sendo amplamente discutido atualmente entre profissionais e teóricos das duas áreas. Talvez o que coloque o design nesta nova posição junto à arte seja o aspecto mais democrático que existe na fronteira entre as duas áreas, o que vem levando alguns autores a afirmarem que o momento atual por que passa arte e design talvez já não seja o mesmo de anos atrás.
Ao analisarmos, por exemplo, o design de Sagmeister e suas fronteiras com a arte, nos deparamos com questões ainda por entender exatamente por ainda serem muito novas, como na reformulação de seu website, em que o designer e sua equipe elaboraram uma comunicação que pudesse expor ao máximo o trabalho feito em seu estúdio. Para isto, numa espécie de reality show, o lugar é apresentado online ininterruptamente, inclusive nos finais de semana, sendo transmitido via uma câmera instalada e que, além de expô-los, ainda destaca a sinalização de navegação do site aplicada ao piso do local.



Criar e recriar sob e sobre emoção, conceito que Sagmeister também aplicou à cadeira gráfica “Darwin”, ideia que inicialmente seria para a criação das cadeiras de seu próprio estúdio, mas que vieram a ser produzidas por uma marca de impressoras. Com um conceito claramente vinculado ao público e às suas afetividades, a cadeira é constituída por uma série de mensagens visuais aplicadas em centenas de folhas impressas e que podem ser destacadas ao longo do tempo. A cada folha a cadeira amplia as percepções do receptor, apresentando novas qualidades gráficas ou táteis.



Sagmeister tem feito palestras por todo mundo e já esteve algumas vezes para isto no Brasil. Em palavras ele resume o que idealiza em seu trabalho: “há muito tempo tento fazer um design que seja de alguma forma mais pessoal, possivelmente mais humano, talvez mais orgânico, mais artesanal, menos objetivo e mais subjetivo”.