A MECA ASIÁTICA DO DINHEIRO

Singapura reúne arquitetura, tecnologia, gastronomia e turismo para nenhum milionário botar defeito.

Publicado em: 15/07/2014
O mundo está com os olhos voltados para a nova meca do dinheiro na Ásia. Singapura, com apenas 710 quilômetros quadrados e menos de cinco milhões de habitantes, é hoje o país com a maior proporção de milionários do mundo, segundo uma pesquisa do Boston Consulting Group, e a quarta população mais rica. Sem muitos recursos naturais, a ilha situada no Sudeste Asiático investiu em sua população para conseguir sair da pobreza – tudo isso em menos de quarenta anos. Hoje tem o status de um dos maiores centros financeiros do mundo, com mais de 26 mil companhias internacionais instaladas em seu território, figurando em segundo lugar no ranking de cidades com maior número de escritórios de multinacionais, perdendo somente para Hong Kong, de acordo com levantamento feito pela CB Richard Ellis.
Desde que declarou independência do Reino Unido em 1963, a cidade-estado investiu em um modelo industrial orientado para exportação, o que atraiu inúmeras multinacionais e também favoreceu a implantação de parques industriais de empresas locais com produção destinada ao exterior. Assim, empresas gigantes como a norte-americana Hewlett-Packard (HP), a petrolífera finlandesa Neste Oil, entre outras, e as brasileiras Petrobras, Embraer, Vale, Votorantim Químicos e Perdigão resolveram investir lá. A cada dia esse número cresce ainda mais, com visitas frequentes de instituições financeiras, empresas de tecnologia de informação, feiras setoriais comerciais e marcas de luxo.



Essa diversidade de investimentos é também um reflexo da pluralidade cultural de Singapura, uma das cidades mais cosmopolitas da Ásia. A população da ilha é formada majoritariamente por chineses e outros grupos étnicos como malaios, indianos e peranakans. Além dessas diferentes culturas, 40% da população total é estrangeira, vinda de todas as partes do mundo. Levando isso em conta, não é de se estranhar que não haja uma única língua ou religião oficial no país. O budismo, taoísmo, islamismo e cristianismo são as religiões mais populares e o inglês, mandarim, malaio e tâmil são as línguas mais faladas. O convívio próximo dessas línguas fez surgir uma variação do inglês muito falada lá: o singlês (singlish) é um hibridismo que surgiu com a incorporação de palavras malaias, chinesas e hindus ao inglês tradicional.
Com um skyline de tirar o fôlego devido a grande quantidade de arranhacéus, muitos jardins, arquitetura ousada e inúmeras opções de lazer, compras, galerias de arte e restaurantes, Singapura é uma cidade dinâmica que combina o melhor do Ocidente e do Oriente. A limitação de espaço e recursos naturais ajudam a explicar a busca incessante por construções inovadoras e o valor dado àqueles que exploram e acrescentam o design no trabalho.
O resultado final é um país que exala ousadia, dinamismo e sucesso, atraindo milhares de turistas todo ano: só nos primeiros três meses de 2011 mais de três milhões de turistas passaram por lá. Singapura foi escolhida pelo World Economic Forum Travel & Tourism Competitiveness Report 2009 como melhor opção da Ásia e décima cidade em escala global e também como “Destino Escolhido pelos Viajantes”, pela TripAdvisor no ano passado. Com tanto o que se ver e fazer, não são as rígidas leis de comportamento e limpeza que vão afastar os viajantes.




Câmeras de segurança em toda parte e espiões da limpeza disfarçados andam pelas ruas e vigiam a população contra atitudes violentas, mas também mantêm os espaços públicos limpos. Lá, só é permitido fumar em algumas áreas e quem joga bituca de cigarro no chão paga multa de US$ 300. Caso o infrator repita o ato, o valor da multa duplica e, na terceira vez em que for pego jogando cigarro no chão, é obrigado a limpar a rua com roupa de gari e o governo ainda chama a imprensa para filmar e veicular na televisão a cena, servindo de exemplo para outras pessoas. Outro costume diferente é a relação do país com o chiclete. Para comprar essa simples guloseima, o turista precisa ir até uma farmácia, apresentar o passaporte e ter seus dados registrados. Isso porque em 1992 os chicletes foram totalmente proibidos após uma goma de mascar grudada na porta do metrô ter interrompido o sistema de transporte por horas.
A educação das crianças também chama atenção. Desde pequenos, por volta dos sete anos de idade, aulas de finanças fazem parte do currículo e exemplos de empresas de sucesso são pintados nas paredes da escola, contando a trajetória vencedora dos empreendedores. Até as músicas infantis mencionam dinheiro e como usá-lo de forma consciente. Para os singapurianos, é de fundamental importância ensinar os pequenos a lidar com dinheiro e até mesmo planejar orçamento para que eles entendam desde cedo a dificuldade que é ganhá-lo.
Em um país planejado para o sucesso econômico, onde todos são educados para serem os melhores em suas respectivas profissões e para trabalhar muito e visando a recompensa financeira, a segurança, a disciplina e o otimismo afloram, atraindo não só turistas empolgados para conhecer a nova promessa da Ásia, mas também mais e mais empresas dispostas a investir ali. O presente e o futuro de Singapura nos instigam a pensar até onde eles serão capazes de chegar e também a ver de perto o crescimento. O país agora faz parte do roteiro de viagem daqueles que estão ligados ao que acontece no mundo hoje e conhecê-lo promete servir para sempre como lição de vida.

MARINA BAY SANDS



Marina Bay Sands é o maior hotel de Singapura e também um grande centro de entretenimento, com abrangente leque de opções gastronômicas, cassino, clubes, teatros, lojas de marcas famosas e um museu de arte com arquitetura inspirada na flor de lótus. Localizado ao longo da Marina Bay, à beira mar, o hotel possui três torres de 55 andares com uma estrutura complexa: cada torre é formada por um prédio reto e um segundo inclinado, com angulação de até 26 graus, e o encontro dos edifícios se dá no 23° andar. 
Ao todo, são 2.561 quartos e suítes, com dezoito tipos diferentes de acomodações e vista para o Mar da China Meridional ou para a Marina Bay e o skyline da cidade. Além disso, 230 suítes de luxo com serviço de mordomo e o acesso privilegiado a áreas VIP são oferecidos para quem busca o patamar mais alto do requinte em Singapura. Sobre as três torres, a 200 metros de altura, encontra-se o SkyPark Sands, uma obra arquitetônica que lembra um navio e oferece mais de 12 mil metros quadrados de lazer. As atrações são a fantástica piscina de 150 metros com borda infinita e vista para a cidade, restaurantes e clubes, uma plataforma de observação e grandes jardins.

SINGAPORE FLYER



A maior roda-gigante para observação do mundo está localizada em Singapura. Com 150 metros de diâmetro, a Singapore Flyer está estrategicamente localizada na badalada Marina Bay e atinge a impressionante altura de 165 metros, possibilitando ao público uma visão de 360 graus dentro das cápsulas de observação. De lá, pode-se ver não só os bairros históricos da cidade, como Chinatown, Sultan Mosque, Little India e o distrito financeiro, mas também as ilhas vizinhas da Indonésia e algumas partes da Malásia.
O ponto turístico foi planejado seguindo algumas tradições chinesas para que representasse a roda da fortuna da cidade: o número 28 soa de maneira semelhante à prosperidade em chinês e por isso, foram construídas 28 cápsulas para 28 pessoas na roda gigante. Além disso, a roda em movimento representa a vida e a continuidade e o sentido no qual ela gira segue os princípios do feng shui, atraindo mais dinheiro para Singapura.
Quem busca uma experiência ainda mais sensorial e saborosa pode solicitar uma taça do requintado champanhe Moët & Chandon ou uma taça do coquetel exclusivo da Singapore Flyer, servido com morangos frescos e chocolate. Ainda é possível se deliciar com um jantar no Full Butler Sky Dining no topo da rodagigante. Este imperdível passeio, capaz de agradar a todos aqueles que não sofrem de medo de altura, pode ser feito das 8:30h até às 22:15h e dura cerca de trinta minutos.

GARDENS BY THE BAY



Singapura está passando por uma mudança de paradigma. Primeiramente qualificada como uma “cidade com jardins”, agora ela pretende ser uma “cidade dentro de um jardim”. Para reforçar e acelerar a entrada da ilha global nesta nova ideia, o Gardens by the Bay foi projetado pelo National Parks Board. O programa, aberto em 2012, é abrangente, visa dar destaque à vegetação nativa da região e também elevar a qualidade de vida na cidade. Utilizando tecnologia de ponta e eco-friendly, com gestão sustentável dos recursos naturais, o parque, com 101 hectares, será mais um ponto turístico da Marina Bay e pretende capturar a essência de Singapura como uma cidade em um jardim tropical perfeito para se viver.
Muitas serão as atrações do Gardens by the Bay. Entre elas está o Conservatory Complex, um ícone cultural que vai abusar da tecnologia sustentável para criar biomas diferentes no parque. Eles abrigarão plantas que só sobrevivem nas temperatura, claridade e umidade específicas de cada bioma. Outra atração são as supertrees, estruturas com forma de árvores de 25 a 50 metros de altura que foram projetadas exclusivamente para este programa e que abrigam florações alpinistas, como epífitas e samambaias. Além disso, as supertrees ajudarão a amenizar o desconforto do calor, proporcionando sombra e abrigo e, integradas com tecnologias sustentáveis de energia e água, serão essenciais para o resfriamento do Conservatory Complex.

INTERLACE



O Interlace é um projeto do escritório de arquitetura, urbanismo e análise cultural OMA, lançado em 2009 e com obras inciadas em 2010. Este ambicioso residencial será um dos maiores de Singapura e surpreende por sua forma pouco convencional e pela nova abordagem que propõe para a vida contemporânea em um ambiente tropical. Além disso, traz características de sustentabilidade incorporadas depois de uma rigorosa análise ambiental do sol, vento e microclima.
Fugindo do modelo padrão de construção (torres verticais isoladas), os profissionais projetaram uma intrincada rede de espaços sociais e privados integrados com o ambiente natural. Os 31 blocos de apartamentos de seis andares empilhados em formas hexagonais circundam oito grandes pátios abertos e permeáveis, que refletem e estendem a natureza. Construído em uma área de mais de 80 mil metros quadrados na parte sul de Singapura, o projeto de mais de mil unidades residenciais irá completar um cinto de nove quilômetros de parques verdes e áreas de lazer. O Interlace promove a interação social nas áreas abertas, fortalecendo o sentido de comunidade, mas mantendo a individualidade e a identidade de seus moradores nos espaços íntimos

ION ORCHARD



ION Orchard é considerado um dos melhores shoppings de Singapura. As formas convidativas e futurísticas do projeto arquitetônico assinado pela empresa de arquitetura Benoy, entre outras qualidades, fizeram com que o shopping ganhasse dois prêmios em 2006 na MAPIC, feira imobiliária que acontece anualmente em Cannes, França, e também o prêmio de Melhor Centro Comercial no MIPIM Awards 2009.
A equipe do Benoy se inspirou na natureza e nos pomares que existiam no local antes da construção para montar o projeto, que procura abordar o tema crescimento – da semente à árvore. Essa poderosa presença orgânica é transmitida através de formas livres, revestimento amorfo e colunas que lembram troncos de árvores. Os 66 mil metros quadrados do shopping reúnem as melhores e mais amadas marcas do mundo com suas lojas conceito. Os oito andares do centro comercial, sendo quatro deles acima do nível da rua e outros quatro abaixo, oferecem ao visitante opções variadas de compras em uma experiência na qual design e sofisticação estão em primeiro plano.

CROWNE PLAZA CHANGI AIRPORT



O Crowne Plaza Changi Airport foi projetado pelo escritório de arquitetura WOHA para ser uma válvula de escape para os viajantes exaustos que chegam à Singapura. O design de interiores e a arquitetura foram pensados para incorporar o clima dos trópicos, com tecidos inspirados na cultura do Sudeste Asiático e na selva tropical. Nas áreas sociais, muita madeira, azulejos tailandeses, tecidos Batik indonésios e malhas de metal chinesas. Os materiais são intencionalmente ásperos, intensos e com cores contrastantes para neutralizar a suavidade tão comum nos ambientes de aviação comercial.
Projetado em 2006, o edifício encontra-se atrás de uma gaiola com um entrelaçado de filigrana com motivos florais que filtra a luz natural. Os quartos dos hóspedes ficam suspensos sobre um tapete de relva, palmeiras e piscinas. Abaixo deste tapete verde, os viajantes são levados do hall de entrada até as áreas de serviço entre paredes sinuosas que seguem o mesmo estilode decoração das áreas sociais.

Com a gigantesca mescla cultural, o recente boom financeiro, a chegada de muitos imigrantes e turistas circulando na mesma época, não era de se estranhar que a gastronomia de Singapura refletisse essa efervescência. A cidade oferece das mais simples às mais exóticas opções gastronômicas do planeta. Separamos para vocês três imperdíveis sugestões caso se aventurem nesse universo quase paralelo.

CANDLENUT



O restaurante The Candlenut Kitchen tem como objetivo preservar a tradicional cozinha Peranakan, de origem asiática, que está caindo em desuso. O crescimento da região, a globalização das cidades e o boom de turistas que Singapura recebe atualmente fizeram com que algumas tradições estejam desaparecendo, mas se depender deste restaurante, nada disso acontecerá. O próprio nome do local revela este desejo: candlenut é um alimento bastante utilizado nos pratos autenticamente Peranakan. A equipe do restaurante cozinha as receitas de gerações passadas com os mais finos ingredientes e com roupagens modernas, para acompanhar o dinamismo da cidade.

RESTAURANT ANDRE



Aberto em 2010, o Restaurant Andre já figura na lista de hot points de Singapura e é comandado pelo chef Andre Chiang, eleito um dos dez melhores chefs da Ásia em 2006 pelo Discovery Channel e um dos 150 melhores Relais Gourmands Master Chefs do mundo no mesmo ano. O restaurante de trinta lugares segue um princípio de culinária desenvolvida por seu dono: a octaphilosophy de Andre mostra como a nossa capacidade de saborear a comida é influenciada por nossos bancos de memória, incluindo as experiências pessoais que adquirimos ao longo do tempo. Dois menus com preço fixo são oferecidos no restaurante durante o almoço e jantar. Pratos populares e reinterpretação da nouvelle cuisine do sul da França encontram-se no menu Clássico, enquanto o menu Octa destaca os pratos que representam a octaphilosophy.

2AM:DESSERTBAR



Insatisfeita com o fato de que as sobremesas quase nunca ganham tanto destaque quanto os chamados pratos principais, a chef Janice Wong abriu em Singapura o 2am:dessertbar para mudar este paradigma. Desde 2007 a casa é um templo de doces e a profunda paixão de Wong pela arte culinária impulsiona a sua criatividade e faz com que ela leve às últimas consequências o limite entre o doce e o salgado. A chef procura manter uma identidade distintamente asiática através da incorporação de ingredientes e memórias de sua infância em Hong Kong, Singapura e Japão.